Local: Nova
Iorque, Warwick Hotel.
Entrevistador: Hy Gardner
Entrevistador: Hy Gardner
Olá, Elvis.
Olá.
Divertiste-te hoje no Steve Allen Show?
Sim,
senhor, diverti-me mesmo, gostei muito.
Foi a primeira vez que actuaste com asas-de-grilo?
Foi a
primeira vez que vesti um fato assim, ponto final.
Quer dizer que tens mesmo, dizem por aí, quatro
Cadillacs, mas não tens nenhum fato?
Não
tenho fatos nenhuns e normalmente conduzo os Cadillacs com calças de
ganga vestidas.
Bem, isso é muito interessante, particularmente
quando os polícias te mandam parar para saber se és mesmo o dono dos
carros, não é?
É isso,
temos de lhes mostrar toda a papelada e coisas assim.
Sabes que há bem menos de dois anos atrás estavas a
ganhar 14 dólares por semana como arrumador de cinema e depois 35
dólares por semana a conduzir um camião em Memphis. Hoje és o nome
mais controverso do show business - esta súbita notoriedade
afectou-te o sono, o apetite ou o tamanho da tua cabeça?
Não me
afectou o tamanho da cabeça, mas afectou-me o sono.
Quantas horas de sono dormes?
Oh, em
média durmo umas quatro ou cinco horas por noite, acho eu.
E isso é suficiente?
Na
realidade, não é, mas estou habituado e não sou capaz de dormir
mais.
No que é pensas mais, quer dizer, nalgumas das
canções que hás-de gravar ou tens planos para o futuro ou quê... O
que é que te vai no pensamento?
Bem,
tudo me aconteceu tão depressa neste último ano e meio que estou
todo baralhado, sabe? Quer dizer, não consigo manter-me a par com
tudo o que tem acontecido e...
Acho que estás em muito boa companhia com o Coronel
Tom Parker, ele tem os pés assentes na terra e acho que ele está a
fazer um trabalho maravilhoso para manter tudo a funcionar bem.
Sabes que quero dar-te aqui uma oportunidade para falarmos sobre os
rumores que têm sido impressos sobre ti, incluindo alguns que foram
publicados até por mim, porque alguns podem ser verificados e outros
não e acho que devemos esclarecer as coisas. O teu estilo de dançar
com giratórios tem sido amargamente criticado, até mesmo pelos
críticos de TV que são habitualmente calmos e serenos, como Ben
Grose. Tens alguma animosidade para com estes críticos?
Bem, nem
por isso, essas pessoas têm um trabalho para fazer e fazem-no.
E achas que aprendeste alguma coisa com os
criticismos que te têm sido feitos?
Não, não
aprendi.
Não aprendeste, hein?
Porque
não me sinto como se tivesse feito alguma coisa de errado.
Lês o que é escrito sobre ti?
Se leio,
quer dizer...
As críticas.
Não, se
puder evitar.
Manténs um livro de recortes?
Só das
coisas boas.
Só das coisas boas... Isso é inteligente. Diz-me, que
tipo de adolescente foste tu... Sempre te consideraste bem
comportado?
Sim,
bem, fui criado, sabe, numa casa bastante decente e tudo isso. Os
meus pais sempre me fizeram comportar bem, quer eu quisesse quer
não.
Bem,
acho que eles são um pouco como eu, sentem-se gratos por tudo. Quer
dizer, sempre vivemos uma vida comum, nunca tivemos nenhuns luxos,
mas nunca passámos realmente fome, sabe? E calculo que eles apenas,
você sabe, se sentem realmente orgulhosos, tal como eu.
Bem, saíram dois ou três artigos esta semana que
dizem que compraste quatro Cadillacs - que tens a dizer acerca
disto, Elvis?
Ah, é,
ah...
O quê?
É
verdade, eu tenho mesmo quatro Cadillacs.
E que fazes tu com quatro Cadillacs?
Bem, eu,
ah... Não, não sei. Não preciso de quatro, só que, você sabe...
Talvez um dia eu fique falido e assim sempre posso vender dois.
Bem, algumas pessoas coleccionam selos e acções do
estado e calculo que Cadillacs devem cair na mesma categoria. Sei
que deste um deles aos teus pais, certo?
Bem,
tudo o que é meu é deles, quer dizer, todos os quatro também são
deles. Estou a fazer planos para ter sete, quer dizer, quero ter
sete, sabe.
Queres ter sete?
Sim.
Bem, já sabes o que vai acontecer, vais acabar por
ter uma corporação de aluguer de automóvel Presley.
Sim,
estava a pensar num parque de estacionamento de carros usados
Presley, sabe.
Sei que compraste uma casa para os teus pais e apesar
do teu pai ter apenas 39 anos, insististe para que ele se
reformasse. Isto é verdade?
Sim,
bem... Ele ajuda-me mais quando está em casa do que se estiver
noutro sítio qualquer, pois pode tomar conta de todos os meus
negócios e cuidar de tudo quando estou ausente.
Bem, acho isso bastante inteligente. Nas tuas
apresentações pessoais, crias uma espécie de histeria em massa por
entre as tuas audiências de adolescentes. Será que os teus abanões e
estremeções são uma espécie de resposta involuntária para com esta
histeria?
Podia
repetir outra vez, senhor?
Bem, estou a dizer que quando te abanas e estremeces
enquanto cantas, isso é alguma resposta involuntária para com a
histeria que vem do teu público?
Involuntária?
Sim.
Ah,
bem... Estou consciente daquilo que faço em todos os momentos, mas é
apenas a forma como me sinto.
Quer dizer, por exemplo, se alguém estiver a jogar à
bola, jogam com mais incentivo quando os fãs gritam e estava a
interrogar-me se seria alguma coisa parecida com isto...
Oh,
claro, calculo que qualquer público reage como se estivessem gostar
e quando se comportam como se estivessem a gostar de nós, bem, isso
faz-nos ficar mais empenhados.
Achas que o teu rock’n’roll tem tido uma má
influência sobre os adolescentes ou achas que...?
Não vejo
como qualquer tipo de música possa ter qualquer má influência sobre
as pessoas. Quer dizer, é só música, não consigo entender isso.
Muitos jornais dizem que o rock’n’roll é uma má influência para a
deliquência juvenil - não acho que o seja. A deliquência juvenil é
algo que, ah... Bem, não sei como explicar isto, mas não vejo como é
que a música pode ter alguma coisa a ver com isso.
Sei que Mitch Miller da Columbia Records define o
rock’n’roll como uma forma segura de rebelião contra mãe, pai e
professor - concordas com esta análise?
Não sei
o que quer ele dizer exactamente com rebelião, quer dizer, como
poderia o rock’n’roll fazer alguém revoltar-se contra os seus pais?
Bem, acho que isso responde ao Sr. Miller. Agora
tenho aqui alguns assuntos que gostaria de esclarecer. Um deles é um
bocado pateta para mim, depois de já ter falado contigo algum tempo,
mas que tens a dizer sobre o rumor de que uma vez deste um tiro à
tua mãe?
(ri-se)... Bem, acho que essa bate os pontos, quer dizer, é a coisa
mais engraçada que já ouvi.
De onde terá saído isto, tens alguma ideia?
Não faço
ideia, nem consigo imaginar. Quando mo mencionou agora, foi a
primeira vez que ouvi.
A sério?
Foi a
primeira vez que ouvi falar nisso.
Bem, tenho aqui outra que também podes não ter ouvido
falar, sobre várias histórias de jornal que dão a entender que
fumaste marijuana para ficares todo frenético para cantar. O que
dizes disto?
Ah,
não sei.
Nem te ralas em responder a esta. Bem, está aqui
outra muito interessante. Não sei se reparaste no artigo que saiu no
outro dia, em que prevêm que Elvis Presley será outro James Dean -
ouviste falar?
Bem,
ouvi alguma coisa sobre isso, mas nunca me compararia de forma
alguma com James Dean, porque James Dean era um génio a representar,
embora deva dizer que, ah, adoraria, quer dizer, acho que há muitos
actores em Hollywood que gostariam de ter a capacidade que James
Dean tinha, mas nunca me compararia a James Dean fosse de que forma
fosse.
Se pudesses escolher, preferias ser actor a ser um
cantor?
Se fosse
um bom actor, visto que não sou um bom cantor, mas se fosse um bom
actor acho que gostaria um pouco mais, se bem que se alguma vez
começar a representar, continuarei sempre a cantar, continuarei
sempre a gravar os meus discos.
Bem, essa é sempre uma boa alternativa. Bem, foi
muito bom falar contigo e espero que gozes de uma carreira muito
longa, quer seja no cinema ou noutra coisa qualquer. Acho também que
todas as coisas que se têm dito acerca de ti, ao passo que têm sido
extremamente críticas, acho que também te ajudaram a transformar num
grande nome, e que te tornou possível fazer todas as coisas que já
fizeste pelos teus pais que sempre quiseste fazer. Por isso, Elvis,
aconselho-te a encarar as coisas dessa forma.
Bem,
senhor, posso-lhe dizer que temos de aceitar sempre o que é mau e o
que é bom. Tenho também recebido alguma publicidade muito boa, a
imprensa tem realmente sido maravilhosa para mim. Também tenho tido
alguma publicidade má, mas temos de estar à espera disso. Sei que
estou a fazer o melhor que posso e que nunca disse que não a nenhum
jornalista nem a nenhum disc-jockey, pois são pessoas que nos podem
ajudar neste negócio e ah... Enquanto eu souber que estou a fazer o
melhor que posso, isso, isso...
Bem, não se pode esperar que faças mais que isso. Foi
muito bom falar contigo, fazes muito sentido.
Muito
obrigado.
Dá os meus cumprimentos ao Coronel.
Serão
entregues.
Adeus.
Fonte: Livro Elvis Word for Word, de Jerry Osborne
/elvis100percent.com
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