ENTREVISTA COM JAN SHEPARD - 22 DE JUNHO DE 2007
O que se segue é uma entrevista telefónica feita a
Jan Shepard, levada a cabo por Joe Krein, em 22 de Junho de 2007.
Jan Shepard trabalhou como partnaire de Elvis, no filme
King Creole, onde representou o papel de sua irmã mais velha.
Pode contar-me um pouco sobre si, onde nasceu e onde
foi criada?
Nasci numa cidadezinha chamada Quakertown, na
Pensilvânia, em Bucks County. Fica a cerca de 40 milhas a norte da
Filadélfia. Aí passei uns tempos maravilhosos enquanto crescia, era
uma cidade pequenina e toda a gente se conhecia. E fazia-se de tudo
enquanto se andava na escola secundária.
Fui majorete e também toquei tambor. Fiz teatro.
Adorei crescer ali.
Fez mesmo isso tudo?
Sim (ri-se).
E foi majorete?
Eu fui tudo (ri-se).
E queria ser atriz?
Desde a 2ª classe que fui a Menina Certinha, de certa
forma. Subia ao palco e acontecia sempre qualquer coisa. Via aquelas
pessoas todas e isso dava-me sempre vontade de querer fazer algo bem
feito. E assim participei em duas peças de teatro da escola. Também
participei nas peças de teatro da escola preparatória e secundária,
no papel principal. Quando estava de férias, também fazia teatro e
até durante as férias depois de ter terminado a escola. Fiz isso
durante uns tempos e era bem divertido.
Então foi para Hollywood e disse, “Quero ser uma
estrela”?
Primeiro fui para Nova Iorque e apanhei uma valente
constipação. Tinha recebido uma referência de Samson Raferson, que
fez muitas peças de teatro.
Ele vivia na nossa área. Mandou-me à Sherrill
Crawford que fazia o Brigadoon.
Então lá fui eu e mal conseguia falar. Nós pensamos
para conosco que mal nos vejam que no fim-de-semana seguinte já
estamos na Broadway. Pensamos que estão para ali à nossa espera. Mas
ela disse para eu voltar para casa e fazer mais peças de teatro
durante as férias. Para fazer isso o mais que pudesse. Foi uma
daquelas coisas pela qual tanto ansiei, mas não tinha ideia nenhuma
do que era preciso fazer para ser atriz. Então lá voltei para casa
e depois tive uma oportunidade para ir visitar alguns familiares na
Califórnia. E assim, nunca mais regressei a Nova Iorque.
E então assinou com que estúdio?
Fiz algumas coisas para a 20th Century, mas a maior
parte do meu trabalho fi-lo na televisão, como para a ABC, a CBS e
depois a Paramount. Andava sempre a trabalhar. Os miúdos que estavam
sob contrato com a Paramount, tiraram uma fotografia de classe e eu
não fiquei nessa fotografia porque só o que fazia era trabalhar.
Era única que trabalhava. Nunca me hei-de esquecer
disso. Quem me dera ter ficado nessa fotografia.
Deve ter visto muitas mudanças, miúdos que vinham e
depois regressavam a casa.
Sim. Sabe que há muito talento maravilhoso a caminhar
pelas ruas e, muito sinceramente, é tudo uma questão de sorte.
Depois também ajuda muito as pessoas que conhecemos. O que me ajudou
a mim foi que me mudei para viver com a Amanda Blake, de Gun
Smoke. Partilhámos um apartamento e Ross Hunter tinha um
apartamento no mesmo prédio. Na altura eu tinha um trabalho fixo. E
íamos a pé juntos para o trabalho todas as manhãs. Também havia um
agente que vivia no prédio. Um dia eu andava a apanhar sol e ele
veio ter comigo e meteu conversa.
Disse, “Precisas de um agente?” Disse que sim.
E foi assim que começou. Mesmo por acidente.
Trabalhou na televisão?
Em cerca de 500 episódios. Fiz muita televisão. Fiz
tantos primeiros episódios de séries e séries. Uma das minhas
primeiras séries foi com McDonald Carrie, que era o Doctor
Christian.
Era presença permanente nessa série. Fiz muitas
séries. Day in Court e Clear Horizons. E também fiz
muitos Westerns.
Participei em quase todos os programas que houve nos
anos 50, 60 e 70.
Fiz, pelo menos, 500 programas televisivos.
E
então o que queria?
Queria ter a sua própria série?
Apenas queria trabalhar. Não me importava onde era o
trabalho.
O que me importava era ter um trabalho e pagar a
renda. Você sabe, encher o frigorífico, todas essas coisas e ter uma
carreira que adorasse. E essa era uma carreira como atriz. Comecei
a fazer tudo o que podia. Depois acabei por ser atriz principal e
estrela convidada. Fui trabalhando e subindo assim.
Era fã de Elvis?
Não (ri-se).
Não se sinta mal, já muitas pessoas me disseram isso.
Foi tão engraçado porque eu estava sentada com Dan
Duriah. Estava a fazer um filme de duas horas.
Estávamos sentados no estúdio. Tinha o jornalista
mesmo à minha frente e dizia “ELVIS PRESLEY.” “Que raio de nome é
esse?” E ele respondeu, “Não sei.”
Disse que havia um miúdo no sul que se chamava Elvis
Presley. Eu disse que ele nunca conseguiria safar-se (ri-se).
Foi a primeira vez que ouvi falar dele. Por isso, não
sabia quem era.
Acabaria por vir a gostar da sua voz. Gostava da sua
voz, mas não sou do tipo de pessoa que adora estrelas de cinema.
Talvez tenham havido uma ou duas estrelas que tenha adorado ou com
quem gostaria de ter trabalhado, mas nunca fui esse tipo de pessoa.
Mas mal o conheci, adorei-o.
Quando é que descobriu que ia fazer um filme de
Elvis?
Estava fazendo uma peça de teatro na Paramount, com a
Dolores Hart, que é minha afilhada. Agora ela é freira.
Oh, sim, sei quem ela é.
Ela costumava estar sob contrato com Hal Wallis. A
Dolores veio ter comigo depois do trabalho. Disse, “Jan, há um papel
neste filme que vou fazer com Elvis Presley que seria perfeito para
ti. O papel seria fazer de irmã dele.”
Eu disse, “Sim, claro, fantástico.”
Mas fiquei-me por ali. Porém, quando me apercebi, ela
telefona-me e diz-me que o Hal Wallis queria me ver.
“Falei-lhe em ti.” Então, lá fui eu.
Ele disse-me, “Gostaria que fizesse um teste.” E
deram-me o guião. Quando cheguei ao estúdio, haviam lá quatro outras moças a fazer testes. Eu pensava que ia ser a única. Fiquei tão
chocada que quase me fui embora. Peter Baldwin, que estava a
representar o papel de Elvis, e que era meu amigo, disse, “Fica,
fica. Estas outras moças não são melhores do que tu.” E então
fui a última a ser testada. Depois fui para casa e rezei para
conseguir o papel. E consegui!
E o papel foi para?
King Creole,
que foi o filme preferido de Elvis. Também é o filme preferido de
Elvis dos fãs dele.
Também é o meu.
Sim, e o meu também. Mas só vi dois filmes dele. Só
os vi porque eu estava neles. Não tem nada a ver com Elvis. É só
porque eu andava constantemente a trabalhar. Fazia séries
televisivas à noite.Papéis diferentes todos os dias, a aprender
falas todos os dias. Não tinha tempo para sair e ir ao cinema. Não
tinha qualquer tipo de vida social. Se tivesse cinco minutos livres
durante o fim-de-semana, só queria era dormir.
Pode contar-me como conheceu Elvis?
Quando somos contratados para um papel num filme,
temos de ir ao médico, por causa da companhia de seguros. Eles têm
de se certificar de que não temos o coração com problemas e todas
essas coisas. Marcaram-me uma consulta no estúdio e lá fui eu.
Levava uma camisa branca vestida e umas calças que a minha mãe me
tinha feito num tecido quer era de cor de vinho. Fui até ao
escritório e estava sentada à espera que me mandassem entrar. E de
súbito entra Elvis, com dois amigos. Olhei para ele, ele olhou para
mim e começámos a rir. O casaco dele era exatamente do mesmo tecido
e da mesma cor que as minhas calças. Ele olhou para mim e disse,
“Querida, ou vou ter eu de despir o casaco ou vais ter de me dar as
tuas calças,” (ri-se). E assim foi o meu primeiro encontro com
Elvis.
Credo.
Palavra de escudeira.
E deu-se bem com Elvis?
Oh, maravilhosamente bem. Ele disse que se tivesse
tido uma irmã, gostaria que tivesse sido eu. Demo-nos tão bem porque
trabalhámos os dois juntos sozinhos durante toda a primeira semana
de trabalho. Eu ia para o trabalho e encontrava no estúdio um par de
brincos que ele lá tinha posto para mim que tinha custado para aí 10
cêntimos e que ele liberara da seção dos adereços. Tenho uma foto
maravilhosa em que estamos os dois sentados à espera para atuar,
sentados à mesa da sala. Entreguei-lhe umas jóias e disse, não posso
aceitar isto de ti, Elvis, bem sabes que é demasiado. És o último
dos grandes gastadores. E lá está ele, a rir-se tanto com isso,
quando eles tiraram a foto de nós os dois. É uma foto fabulosa dele.
Mas ele estava sempre a fazer coisinhas assim.
E
tocava música na sua guitarra. Perguntava-me o que queria eu ouvir.
Elvis adorava Danny Boy.
Alguma vez saiu com Elvis?
Não, era casada (ri-se).
Oh, desculpe, não sabia.
Não, era casada, querido. Mas vou contar-lhe como
era: uma vez a Dolores Hart fez-me uma festa de aniversário
surpresa. Todos os pequenos do estúdio da Paramount estavam lá. Foi
uma grande surpresa para mim. Estava lá eu há cerca de dez minutos
quando entrou Elvis com os rapazes. Trazia um urso de peluche enorme
debaixo do braço. Ele sabia que eu adorava gatos, por isso,
trouxe-me um gato de peluche, a quem deu o nome de Danny Boy. Também
me deu uma caixa enorme. Durante semanas eu tinha andado a pedir-lhe
para me dar fotografias para as poder dar aos meninos da minha
vizinhança, quando souberam que eu ia fazer um filme com ele. Todos
me imploraram por fotos. Então andava sempre a pedir-lhe fotografias
para os pequenos. “Vá lá, por favor, preciso de fotos.” Então ele
deu-me esta caixa enorme e eu pu-la de lado. Ele disse, “Oh, não,
precisas de abrir isso já.” Abri-a e tinha lá dentro uma câmara de
filmar com um foco luminoso e filme. Ele disse, “Agora já podes
fazer os teus próprios filmes.” Sabe que se o Coronel Parker
estivesse presente, nunca teria permitido aquilo.
Oh, tem toda a razão.
A Dolores disse no dia seguinte que se tinha cruzado
com Elvis e lhe disse, “Fiquei tão espantada por teres aparecido.”
Ele disse que tinha de ir, “Ela é minha irmã. Não ia falar à sua
festa de aniversário” (ri-se). Cruzei-me com ele no estúdio. Ele
disse-me, “Ouvi dizer que o Elvis foi à tua festa de anos.” “Sim,
foi.” “Bem sabes que ele nunca vai a lado nenhum, as pessoas andam
sempre atrás dele, ele nunca vai às casas das outras pessoas.”
Isso era muito verdade.
Disse que achei que tínhamos ficado um bocadinho mais
próximos.
Elvis era bom ator?
Maravilhoso!
Oh,
simplesmente maravilhoso! Nunca hei-de esquecer. Sabe que todas as
pessoas que sabem cantar são boas a representar. Porque têm o
sentido dos temos, o sentido do ritmo, o sentido do significado das
palavras. Ele era um ator brilhante porque não precisava de
aconselhamento. Ele sabia automaticamente o que fazer e
representava, na hora. Não parava de lhe dizer, “Oh, Elvis, por amor
de Deus, estás a fazer um trabalho incrível.” Um dia fomos almoçar.
Estávamos sentados a uma mesa e entrou o Marlon Brando. Elvis estava
sentado de costas para ele. Havia uma mesa mesmo atrás de Elvis que
estava vazia, por isso Brando viu Elvis mal entrou. E ele foi
sentar-se mesmo na cadeira que estava por trás de Elvis. Disse-lhe,
“O Marlon Brando está sentado atrás de ti.” Elvis disse, “Oh, meu
Deus” e enfiou a cabeça na sanduíche. Disse-lhe,”Escuta, ele quer
conhecer-te, vi-o a olhar para ti, diz-lhe olá.” Bem, foi
exatamente isso que aconteceu. Ele levantou-se e esbarrou na sua
cadeira.
Marlon levantou-se e os dois apertaram as mãos. Falaram um
bocadinho.
Elvis foi muito reservado. Quando ele saiu do café,
continuou a ser muito reservado e discreto. Mas mal saiu lá para
fora, deu um salto. Não conseguia acreditar que tinha conhecido
Marlon Brando. Ficou tão entusiasmado, que fomos os dois a dançar de
volta até ao estúdio. Um dia, depois do filme ter sido lançado,
alguém me enviou uma crítica feita a
King Creole. O título
era, “O Brando da Bourbon Street.” Fui a correr até à Paramount e
agarrei em Elvis e disse, “Olha para isto.” Mostrei-lhe o artigo e
ele nem queria acreditar. Disse, “Vês, bem te tinha dito que ias ser
maravilhoso neste filme!” Joe, Elvis foi mesmo!
Você fez mais outro filme com Elvis.
Sim, Paradise Hawaiian Style.
Pode falar-me sobre esse filme e como conseguiu o
papel?
Tinha ido à Paramount para almoçar com a Dolores
Hart. Ela estava a fazer uma prova de roupa para um filme.
Cruzei-me com Paul
Mason. Ele disse, “Olá.”
Perguntou-me o que estava eu a fazer. Disse, “Ei,
precisamos de uma esposa para Jimmie Sakita num filme que o Elvis
está a fazer. Estarias interessada?” Ele continuou, “Não é um grande
papel, mas é um bom papel.” Eu disse, “Sim, pode ser.” Ele disse-me
para ir ter com Hal Wallis. “Vou telefonar-lhe para lhe dizer que
vais lá.” E então lá fui. Bem, o escritório de Hal Wallis estava
cheio de arte. Tinha originais de Remingtone Chares Russell, todos
aqueles maravilhosos pintores dos westerns. Entrei e disse, “Oh, meu
Deus, você tem um Remington!” Eu conhecia arte porque o meu marido é
artista. Hal Wallis ficou muito impressionado, perguntou-me se eu
queria o papel. Sim, claro, seria maravilhoso! E foi assim que
consegui o papel.
E o que foi que Elvis lhe disse quando a viu?
Bem, no momento em que me viu, perguntou-me como
estava a Dolores, porque agora ela era freira há cerca de um ano. E
eu disse que ela estava be, que a tinha visto, que tinha ido
visitá-la. E Maria Cooper, a filha do Gary e eu fomos madrinhas dela
quando ela entrou no mosteiro. E disse, “Fui lá vê-la e ela está
ótima. Ela, sabes, se eles me deixassem usar rímel, iria também
para lá, pois é um sítio maravilhoso.
Ela está em casa. É
onde quer estar.”
Ele queria saber se ela estava bem, sabe. Reparei que
ele não era o Elvis que era o ursinho de peluche que subia ao palco,
pegava em nós e dava uma pirueta coenosco nos braços. Ele já não era
assim.
Ele mudou?
Ele nunca estava no seu camarim e sabe como foi
King Creole. Andava sempre fora com um grupo, a divertir-se e a tocar
guitarra, sabe, a divertir-se. Mas agora ia para o camarim e
fechava-se.
Reparei que bebia
muita água. Tinha montes de copos de água e estava sempre a beber.
Também tinha uma atitude que era tão diferente.
Parecia meio hipnotizado e nos filmes, tanto ele como eu conhecíamos
o Charlie Afura, que era quem fazia a sua coreografia. O Charlie
estava a mostrar-lhe algo no palco, alguns passos de dança ou algo
assim, e ele estava só a olhar para o Charlie, como quem diz, “Já
fiz isto quatro ou cinco vezes. Sei o que queres,” porque os filmes
eram todos iguais.
Pois.
Estava sempre a fazer o mesmo filme e sei que estava
farto daquilo.
Sim, algo que ele adorava fazer aprendeu a detestar.
Aprendeu a detestar o que lhe davam.
Sim, mas ele ainda queria representar.
Sim.
Alguma vez lhe falou sobre isso?
Com a Barbra Streisand.
Mas alguma vez ele chegou a falar
do assunto? Se detestou a ideia ou que não, não queria fazer o filme.
Não, por causa do Coronel Parker, ele disse que não e
essa foi uma atitude muito estúpida. Só o que o Coronel Parker
queria era dinheiro e ele roubava dinheiro de Elvis e da RCA. Quer
dizer, eles praticamente só ganhavam dinheiro com Elvis. Ele ganhava
50% dos lucros de Elvis e não queria fazer absolutamente nada que o
pudesse levar ao Japão. Elvis queria ir ao Japão. Adoravam-no além-mar.
O Coronel Parker disse sempre que não.
Quando é que foi a última vez que
viu Elvis?
Vi-o em Las Vegas. Fomos a um
Caesers Palace e estava tão decepcionada porque ele estava envolvido
com o karaté e virava muitas vezes as costas ao público. E a vontade
que eu tinha era de subir ao palco e dar-lhe um abraço, sabe?
Pois.
Porque ele não estava a ser ele
mesmo. Você entende. Acho que quando a mãe dele morreu, esse foi um
golpe terrível e que se ela tivesse sobrevivido, Elvis bem que
poderia ainda ser vivo hoje.
Pois. Quando
estiveram a trabalhar nos filmes, alguma vez tiveram a oportunidade
de ter conversas só os dois?
Oh, sim, a toda a
hora. Especialmente em
Creole, mas não já não tanto em
Paradise Hawaiian Style. Sim, tal como no fim-de-semana que
tinha chovido o tempo todo e na manhã de Segunda-Feira quando Elvis
entrou na sala da maquiagem e eu disse, "E então, o que é que
fizeste este fim-de-semana?" "Estive ao telefone com a minha mãe o
dia inteiro, não fui a lado nenhum." Uma vez ele contou-me que
andavam em tournée e que pararam para comer, isto foi nos anos 50.
Um fulano enorme veio ter com ele e agarrou-o pelos colarinhos. Ele
disse, "Não gosto de ti." E Elvis disse, "Qual é o problema?" "A
minha mulher anda com a tua fotografia na carteira dela." E Elvis
disse, "Ei, senhor, lamento muito, mas eu não tenho nada a ver com
isso. Lamento que ela faça isso." Ele largou Elvis e foram-se embora.
Ele passava por tantas situações assim que tínhamos de enganar as
pessoas quando ele saía do estúdio. Mandávamos uma limusina sair
primeiro para os fãs pensarem que Elvis ia lá dentro. Mas ele estava
a ser enfiado num táxi, nas traseiras do estúdio. E Elvis estaria
deitado no chão. Um dia ele disse-me, "Sei que não é intenção deles,
mas às vezes magoam-me. Agarram-me, puxam-me o cabelo." Uma vez
arranharam-lhe um olho quando estavam a tentar obter algum daquele
lindo cabelo preto. "Já me magooei antes," disse Elvis. "E é por
isso que não vou a lado nenhum." Conversávamos bastante. Uma vez
disse a Elvis, "Porque é que não gravas
Danny Boy?" Ele adorava a
canção porque cantava-a muitas vezes à sua mãe. Ele respondeu, "Eles
não querem. Não me deixam cantar algo desse género." Era tão
engraçado, um dia o Pat Boone veio até ao estúdio. Elvis viu-o ao
longe e começou a cantar April Love, mesmo como o Pat a cantava. O
Pat sorriu de orelha a orelha, depois veio ter com ele e foi assim
que se conheceram. Mas ele nunca teve oportunidade para fazer parte
do ambiente de Hollywood, porque tinha medo de sair com outros
jovens que andavam pelo estúdio. Se ele fosse ao cinema, tinha de
alugar a sala inteira. Sabe que Elvis nunca andava com dinheiro e
então quando eu ia para a máquina das maçãs, lá ia ele atrás de mim.
Dizia-lhe, "Queres uma maçã, certo?" "Sim, se faz favor" (a rir-se).
Ele nunca andava com dinheiro.
Sei que isso é verdade e assim continuou até aos
anos 70. Eram os homens dele que andavam com o seu dinheiro e as
suas chaves. Quando é que ouviu dizer que Elvis tinha morrido?
Estava sentada com uma amiga na casa dela. O telefone tocou e perguntaram se eu estava lá. Perguntaram-me se tinha o rádio ligado ou se tinha estado a ver televisão. Respondi que não, porquê? "Elvis morreu." Nem consegui falar. Quando consegui falar, disse que me sentia tão zangada com ele. Senti-me tão zangada que nem fui capaz de chorar. Porque ele estava a fazer tudo o qu estava errado e sabia bem que sim, raios! Pude ver tudo isso quando fui vê-lo a Vegas. Disse para mim mesma, "Aquele não é o meu Elvis."
Mas sabe que o
homem foi o maior artista do século XX.
Nunca haverá outro
como ele. No tempo do
Creole, ele era assim como um urso de
peluche gigante. Uma vez perguntei-lhe, "Está bem, Elvis, quando é
que começou toda esta história de abanar as ancas? Porque é que
fazes isso?" "Faço-o porque é divertido, sei muito bem quando tenho
de abrandar." Eu costumava ver os rapazinhos negros na cidade dele,
como se punham nas esquinas a cantar. E depois levantavam-se e
dançavam. Ele disse-me que tinha sido aí que tinha apanhado esse
jeito. Eles cantavam e moviam as ancas.
Quantos filmes
fez você?
Seis ou sete. Fiz
mais televisão. Cheguei a esse mundo na altura certa. O meu primeiro
papel foi um papel principal! Recebi um telefonema da série Perry
Mason. Disseram-me, "Temos andado a tentar contactá-la há dois anos.
Mas está sempre a trabalhar!" Depois fiz muitos programas para essa
série. Disse-lhes, "Telefonem-me que eu apareço logo."
E o que faz
hoje em dia?
Reformei-lhe há cerca de dez anos.
Bem, gostaria de
lhe agradecer por ter falado comigo hoje.
Foi muito bem vindo,
Joe.
Fonte: elvis100percent.com
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