Local:
Estúdio da 20th Century-Fox, Hollywood, Califórnia
Conteúdo:
Sobre o “Criticismo”
Sobre o “Espectáculo”
Com que Então, Nunca Estou Nervoso, Hein?
A Minha Pequena Especial
O Quê, Não Tive Lições de Canto?
O Livro de Recortes Verde
A Minha Maior Ambição
As Minhas Costeletas
A Minha Verdadeira Religião
Será que Mudei?
Vou Representar como Quem?
Será que Sei Mesmo Tocar Guitarra?
Será que Digo Mesmo Todas Aquelas Coisas?
Sobre Parques de Diversão
Porque Motivo Canto como Canto?
E Agora, que Mais Posso Dizer?
Mudança de Morada
Olá! Aqui é o Elvis Presley! Bem, finalmente estou tendo a oportunidade de me sentar e falar convosco, para falar à
vontade e dizer-vos tudo o que tenho no pensamento. Já há muito
tempo que andava a querer falar-vos de mim. E agora que tenho a
oportunidade de vos falar directamente, espero que não se importem
se desabafar um pouco sobre algumas coisas. Coisas que acho que vão
entender, muito embora saiba que muita gente não entende. Quero
dizer-vos à minha maneira e com as minhas palavras porque motivo
faço as coisas que faço e porque me sinto da forma que sinto. E sei
que se me pudesse sentar sozinho convosco algures, se pudesse falar
convosco de forma pessoal, me entenderiam.
É por isso que fiz o disco dourado para a capa desta
revista. Na indústria discográfica, dar um disco de ouro tem um
significado especial. É como se fosse um anel de noivado ou um carro
novo ou ainda mil dólares. Não damos estas coisas a toda a gente.
Quando damos um disco de ouro a alguém, está a dizer-se, “Isto é
algo muito importante para mim, algo muito especial… de mim para
ti.” E é assim que me sinto em relação a este disco da revista. E é
por isso que é dourado. E foi por isso que o quis fazer assim.
Porque quis, acima de tudo, de ter uma oportunidade de me juntar a
vocês!
Um dos maiores divertimentos que tive na vida foi
fazer este disco dourado especial para vocês. Quis que dissesse
exactamente como me sinto e ouvi-o vezes sem conta, entanto
certificar-me que saía mesmo bem. Sabem, uma das coisas que escrevem
sobre mim é que tento fazer tudo de forma perfeita. Talvez às vezes
me esforce demasiado. Mas eles têm razão. Sinto que tenho de fazer o
meu melhor, seja o que for. E aposto que vocês também se sentem
assim.
Sobre o “Criticismo”
Quando comecei a actuar ao vivo nas primeiras vezes,
toda a gente se sentia feliz. Todos os pequenos vinham e divertiam-se,
libertando imensa energia, sem ninguém se magoar. Foi assim durante
mais ou menos dois anos. Continuei a cantar as canções que as
pessoas gostavam e continuei a fazer o que sempre tinha feito sobre
o palco.
Mas durante os últimos seis ou sete meses, tenho
recebido criticismo por parte de muitas pessoas por “me perder” nas
minhas actuações, por cantar da forma que canto sobre o palco. Não
consigo realmente entender. É a única coisa que posso dizer, é a
única explicação que tenho.
Tenho estado a fazer o mesmo desde que comecei a
cantar ao vivo, durante pelo menos dois anos e meio, até agora. E
tem sido apenas durante os últimos meses que tenho sentido o
criticismo. Por isso calculo que seja porque os meus discos ficaram
mais conhecidos. Calculo que quanto mais famoso se é, mas criticismo
se recebe. Se ainda estivesse a actuar num Festival de Música
qualquer em Memphis, ninguém se iria importar com o que eu fazia ou
cantava. Mas agora, como conheço cada vez mais pessoas e canto cada
vez em mais sítios com mais frequência, é uma história diferente.
Mas posso dizer-vos isto. Não faço quaisquer esquemas
de movimentos para as canções que canto, como já ouvi algumas
pessoas dizer. Canto como canto e ajo como ajo porque para mim é
natural fazê-lo enquanto canto. Não o faria se achasse que não era a
coisa mais adequada de se fazer, ou se achasse que prejudicava
alguém com isso. Se achasse isso, fazia as malas, voltava para casa
e nunca mais cantaria uma única nota.
Sobre o “Espectáculo”
E há também outra coisa, que acho que as pessoas
deviam tentar aperceber-se. Há uma grande diferença entre cantar num
disco e cantar para um público. As pessoas podem ficar em casa e
ouvir os seus discos ou a ouvir rádio, que não lhes custa nada. Mas
quando pagam do seu dinheiro para vir ver alguém numa actuação ao
vivo, estas pessoas querem ver um espectáculo.
Pagam do seu dinheiro
para ver algo com vida, não apenas ouvir o que ouvem num disco. Se
eu ficasse parado à frente de um público e não fizesse mais nada
para além de cantar, estaria a agir mal. Não me divertiria, nem
seria capaz de me divertir se fizesse isso. E o público iria
aperceber-se disso. Iam sentir que não estava a gostar do que estava
a fazer e não voltariam para me vir ver da próxima vez.
Com que Então, Nunca Estou Nervoso, Heim?
Uma das coisas que dizem sobre mim é que nunca estou
nervoso. Dizem que não me preocupo com nada e dizem que durmo entre
oito a dez horas de sono por noite. Quem me dera que tivessem razão.
Mas não têm. Sempre fui nervoso, toda a minha vida. E
agora, que estou sempre a actuar ao vivo, fico com tanta energia que
não sou capaz de me descontrair. Depois de um espectáculo vou para o
meu quarto de hotel e vou para a cama para tentar dormir. Mas vocês
sabem como é difícil, tentar dormir num quarto e numa cama estranhos
longe de casa, principalmente quando se está tão nervoso e
eléctrico.
Vou para a cama de noite, fecho os olhos e fico para ali
deitado. E depois começo a dar voltas. E reviravoltas. E passam-se
duas horas nisto e não consigo dormir nada. Dizem que aprendemos a
descontrair conforme vamos ficando mais velhos. Espero que tenham
razão.
Não consigo evitar. Às vezes sinto-me inquieto. Não
sei o que é. Talvez seja porque nunca estive tanto longe de casa,
dos meus familiares e dos meus amigos durante tanto tempo. Não sei.
Mas é uma sensação estranha. Uma sensação de solidão. Acho que toda
a gente já sentiu isso a um dado momento na vida.
Gosto do sol, do ar livre e de nadar. Mas tenho de
ter cuidado com o cloro, pois sou alérgico. É por isso que não
utilizamos cloro na piscina que mandámos construir lá em casa. Os
miúdos da vizinhança adoram a piscina. Estão sempre a aparecer lá
por casa. E a mãe, a minha rapariga preferida, também está a
aprender a nadar.
A Minha Pequena Especial
Sei o que têm lido sobre aquela pequena especial” que
eu tenho lá em casa, em Memphis. Leram que andamos juntos durante a
escola secundária e que já namoramos seriamente durante os últimos
três anos. Eu sei. Também já li coisas sobre ela. Mas isso é a única
coisa que sei a seu respeito, porque para vos dizer a pura verdade,
não tenho uma miúda especial.
Nem agora, nem nunca. Nunca saí com
uma rapariga durante três semanas, ou três meses, seguidos, quanto
mais três anos. E agora, com todas as viagens que faço e o trabalho
que tenho, não tenho muito tempo para namorar. Claro que gostava,
mas não tenho mesmo tempo.
Quando de vez em quando volto para casa, em Memphis,
é mais fácil para mim sair com raparigas porque ainda conheço muitas
raparigas com quem andei na escola. Mas nunca namorei seriamente com
nenhuma delas. Sempre nos divertimos muito todos juntos e é tudo o
que tenho a dizer sobre qualquer “miúda especial”.
Talvez nem sempre venha a ser assim. Espero que não.
Sim, telefono aos meus pais em Memphis com muita
frequência. Quase todos os dias. Mas gosto de saber como estão e
como estão as coisas. E não tenho muito tempo para escrever, por
isso prefiro telefonar. Sabe mesmo bem ouvir as suas vozes. Às vezes
faz-me sentir um bocadinho saudades de casa.
Não sou um solitário, acho que não. Mas tenho de
admitir. Por vezes gosto de me afastar sozinho. Sabem como é. Ir
sozinho para qualquer lado. Sem multidões, sem nada. Onde só haja
sossego. E silêncio. E possa pensar.
O Quê, Não Tive Lições de Canto?
Não. Nunca tive uma lição de canto na minha vida. De
facto, nunca tive qualquer lição ligada a música. Comecei a cantar
quando era miúdo, como vos contei, e é o que tenho feito desde
então. Tinha 11 anos de idade quando me apresentei à frente de um
público a sério pela primeira vez. Foi numa feira na cidade onde
nasci, Tupelo, no Mississippi.
Eu tremia que nem varas verdes, mas
estava determinado a cantar e nada neste mundo me teria feito
impedir de avançar e entrar no concurso de talentos da feira. Fiz
tudo sozinho e não tinha ideia nenhuma do que devia fazer quando me
vi à frente daquela gente toda. Só o que tinha na cabeça é que tinha
de cantar.
Não tinha nenhuma música ou acompanhamento comigo e
não consegui arranjar ninguém para tocar um instrumento para mim. Eu
não sabia tocar nada na altura. Então limitei-me a ir para o palco e
a cantar. Cantei uma canção chamada Old Shep, que conta a história
de um cão e sei que devem ter sentido pena de mim porque me deram o
quinto prémio e toda a gente me aplaudiu com muita simpatia.
Caramba, mas digo-vos que estava realmente assustado e a tremer por
todos os lados. Mas também me senti bem. Era a primeira vez que
tinha pisado um palco.
Depois um dia vi um artigo sobre mim que dizia que eu
não era muito bom cantor. Recortei esse e enviei-o à minha mãe e ela
escreveu-me de volta a dizer que não queria encher o meu livro com
coisas assim. Mas escrevi-lhe também e disse-lhe, “Mãe, qualquer
pessoa pode encher um livro de recortes com coisas boas.
Mas para
que pode servir? Gostava de saber as coisas que as pessoas não
gostam em particular a meu respeito para as poder analisar e tentar
melhorar, se puder.” E foi assim que O Livro de Recortes Verde
nasceu. Tenho muitas páginas cheias e muitas ainda estão vazias, mas
vou dizer-vos outra coisa. Sempre que vou para casa, em Memphis,
pego nesse livro e estudo-o. Já sei quase todas as coisas de cor e
vou sempre tentar dar o meu máximo para melhorar sempre que possa.
A Minha Maior Ambição
Sei que tive sorte sob muitas formas. Mas acho que a
coisa mais afortunada que já me aconteceu foi começar a realizar a
minha maior ambição.
Toda a minha vida, sempre quis ser actor, muito
embora nunca tivesse participado em peças de teatro na escola ou
recitado qualquer excerto de peças senão Gettysburg Address para a
minha turma do sexto ano. Mas lá bem no fundinho da minha mente
sempre esteve a ideia de um dia, de qualquer maneira, poder ter a
oportunidade de representar.
Vim para Hollywood há quase três meses atrás e o Sr.
Hal Wallis da Paramount Pictures pediu-me para fazer um teste
cinematográfico. Agarrei logo a oportunidade. Lá fui eu fazer o
teste e o Sr. Wallis disse-me para não me preocupar em tentar
representar como John Barrymore ou outro qualquer. Disse-me para
actuar como eu mesmo. Estudei o que queriam que fizesse e antes de
me ter apercebido, estava em frente de uma câmara.
Interrogo-me se
alguma vez irão poder saber o que é estar num palco de som
cinematográfico e ouvir uma campainha tocar e toda a gente gritar,
“Silêncio” e, de súbito, aperceberem-se que toda a gente está a
olhar para vocês e é suposto vocês representarem um papel. Digo-vos
uma coisa, é suficiente para sentir as pernas a falhar.
Sempre que fico nervoso, gaguejo um bocadinho. Tenho
dificuldades em dizer “when” (quando) ou “where” (onde) ou quaisquer
outras palavras que comecem pela letra “w” ou “i”. Bem, posso
dizer-vos que tive muitos problemas com imensos w’s e i’s naquele
dia.
Quando o teste acabou, pensava que tinha sido
horrível. Mas o Sr. Wallis veio ter comigo e disse-me que coisas
como eu falhar algumas letras de algumas palavras, ou gaguejar, na
arte de representação, são na realidade, bem vindas… pois faz com
que o desempenho pareça mais natural.
Eu sorri e agradeci-lhe, mas
podem apostar que não lhe disse nada que não tinha gaguejado de
propósito! Se aquilo era natural, o que eu tinha feito, e eles
estavam satisfeitos com o resultado final, então era óptimo para
mim. E também foi um alívio. O meu teste cinematográfico tinha
chegado ao fim. Tinha ultrapassado o primeiro passo para realizar a
ambição da minha vida.
As Minhas Costeletas
Já ouvi tantas histórias sobre o motivo de ter
começado a deixar crescer costeletas que às vezes não consigo evitar
de me rir. Uma revista dizia, “… começou a usar costeletas aos 15 anos
porque o faziam sentir-se maduro e importante. Ainda as usa pelos
mesmos motivos…”
Caramba, aquela revista fez-me rir porque não havia
nada de verdade nas coisas que disseram. Que diabo, não poderia ter
começado a deixar crescer costeletas aos 15 anos, mesmo que quisesse!
Nessa altura nem sequer fazia a barba! Tinha 17 anos quando comecei
a deixar crescê-las. E por certo que não me fizeram sentir “maduro e
importante” quando começaram a crescer.
Deixei-as crescer por um
único motivo… porque sempre as admirei. Nunca achei que me fizessem
parecer mais velho e certamente que nunca achei que me faziam
parecer importante. Nada disso. Só gosto delas, apenas isso. E é por
isso que as uso. Muitas pessoas já me perguntaram porque é que não
as rapo agora. Mas sabem o que lhes digo?
Digo-lhes que comecei
neste negócio com costeletas e sou daquele tipo de pessoa que não
gosta de mudar de cavalo quando já vai a meio do rio. Todos os meus
amigos gostaram de mim com as costeletas, por isso não vejo nenhum
motivo porque deva raspá-las. E, oh, sim, também há outra coisa.
Ainda continuo a admirá-las muito, da mesma forma que admirava em criança.
Também me perguntam porque uso as roupas que uso. Que
posso eu dizer? Gosto de roupas bonitas, é só isso. Também gosto de
cores. Há algum mal nisso?
A Minha Verdadeira Religião
No outro dia, li isto: “… Presley começou por cantar
num coro de igreja, mas a fama fê-lo esquecer-se totalmente da
religião…”
Sentei-me logo e recortei isso do jornal, pus dentro
de um envelope e mandei-o para a minha mãe pôr no livro de recortes.
Já estava à espera que viessem dizer coisas desse género. De que eu
não era religioso. Refiro-me a isso. Mas esta era a primeira vez que
via isso ser referido.
Bem, não tenho exactamente a certeza o que querem
dizer com “religioso” nesse artigo, mas posso dizer-vos algumas
coisas. Não acho que tenham razão quando dizem coisas assim. Não, já
não vou à igreja com a frequência com que costumava, se é isso que
querem dizer quando falam em “religioso”.
Por andar sempre em
digressão e a viajar a toda a hora em que não estou a trabalhar,
nunca posso ter a certeza de quando vou ter um Domingo livre para
mim. Quem me dera poder ter, tal como também gostaria de estar mais
tempo com os meus pais, mas não posso. Por isso, se acham que ser
religioso é ir à igreja com regularidade, então calculo que não
encaixo naquilo que querem.
Mas queria que soubessem uma coisa. Acredito em Deus,
acredito Nele com todo o meu coração. Acredito que todas as coisas
boas vêm de Deus. E isso inclui todas as coisas boas que me têm
acontecido a mim e à minha família.
E a forma como me sinto em
relação a isto, ser religioso significa que se ama Deus e que se
está grato por tudo o que Ele deu, e que se quer trabalhar para Ele.
Sinto tudo o que estou aqui a dizer, do fundo do meu coração. E rezo
para que, caso esteja errado em me sentir assim, que Deus me diga.
Porque tudo o que de bom me aconteceu, eu devo-Lhe a Ele.
Será que Mudei?
Acho que toda a gente se interroga como seria se um
dia se apresentasse perante um público e ficasse bastante famoso.
Lembro-me que costumava pensar nisso, quando andava a conduzir um
camião em Memphis.
Sonhava sobre ser um sucesso e interrogava-me
como a minha vida mudaria se isso algum dia viesse a acontecer. Bem,
posso dizer-vos como me sinto agora. Não me sinto em nada diferente
de como me sentia antes de tudo isto ter acontecido. Sou como sempre
fui.
Claro, calculo que toda a gente diga isto. E muito
embora o digam, há muita gente que muda na mesma, sem sequer se
aperceber. Mas na realidade, tenho a certeza que não mudei. Nunca
senti nenhuma mudança. Sinto-me agora como me sentia há cinco ou dez
anos atrás. A única diferença que senti desde então é felicidade,
porque tudo ficou melhor para mim… que Deus me tenha abençoado e que
me tenha dado tantas das coisas boas e maravilhosas da vida.
Espero
que eu não venha a mudar. Espero nunca me vir a tornar como algumas
pessoas que já vi, que se esquecem que nunca poderia ser bem
sucedidas ou felizes sem a ajuda de Deus. E desejo, muito
sinceramente, que toda a gente pudesse conhecer o mesmo tipo de
felicidade que conheci, devido a tudo isto. É isso que mais desejo,
do fundo do meu coração.
Vou Representar como Quem?
Têm saído muitos artigos ultimamente a dizer que eu
ia imitar ou copiar o falecido James Dean. Bem, quero esclarecer as
coisas em relação a isso.
Tal como já vos disse em relação à forma como canto,
não quero copiar ninguém. E o mesmo se aplica à minha forma de
representar. Sempre fui um grande admirador de James Dean. Acho que
era um dos melhores actores que já vi na vida. Ele e Marlon Brando,
e muitos outros que poderia referir.
Mas não vou tentar copiar
ninguém. Estou a tentar ser eu mesmo na forma como represento, com o
meu próprio nome e o meu próprio estilo. Claro que um dia adoraria
vir a ser apenas metade do bom actor que James Dean foi. Foi o
maior. Mas não vou tentar imitá-lo. Sei que não conseguiria, mesmo
que tentasse.
E há outra coisa. Há uma revista que há cerca de um
mês já me tinha a representar o papel da história de vida de James
Dean no ecrã e tudo. Bem, não vou fazê-lo. Seria um grande
privilégio ser suficientemente bom para representar o papel de James
Dean na história da sua vida, mas certamente que isso não está a ser
planeado para agora. Só o que espero é que eu possa trabalhar como
actor de uma forma que vos faça sentir orgulho em mim. E quero que
saibam que vou estar sempre a tentar dar o meu melhor.
Deixem-me contar-vos uma coisa sobre Hollywood. É
realmente um sítio espectacular. Pelo menos, já me diverti muito.
Acabei de terminar o meu primeiro filme para a 20th Century-Fox,
chamado Love Me Tender, e sabem? Foi o maior divertimento da
minha vida. Fazer filmes é, bem, não sei exactamente como descrever,
excepto que é diferente. É algo que sempre quis fazer. E só espero
que gostem de mim no grande ecrã já que certamente que eu gosto de
fazer filmes para vocês.
Será que Sei Mesmo Tocar Guitarra?
Tem havido outro rumor que, para mim, tem sido
divertido. Li numa revista que não sei tocar uma única nota de
guitarra e li noutra, na mesma semana, que sou o melhor guitarrista
do mundo. Bem, ambas as histórias estão erradas.
Nunca tive nenhumas lições de música, como já vos
disse. Mas sempre gostei de música de todos os tipos e de
instrumentos musicais. O meu pai comprou-me uma guitarra de loja
quando era ainda muito novo. Aprendi a tocar uns acordes nela, mas
não tentei ser nada de muito elaborado. Sei tocar guitarra bastante
bem e sei também seguir uma melodia se estiver atento. Mas nunca
ganhei nenhuns prémios a tocar guitarra, nem nunca vou ganhar.
Quando subi ao palco durante a minha primeira
apresentação pessoal, naturalmente que levei a minha guitarra
comigo, para me fazer companhia. Utilizei-a como adereço, ou
qualquer outra coisa que lhe possam querer chamar. Para mim, naquela
primeira actuação ao vivo, foi a melhor amiga que podia ter porque
me fez companhia e eu soube que não ia estar para ali sozinho, a
fazer figura de parvo.
E continuei sempre a levá-la comigo. Agora
até tenho uma nova, um presente para mim mesmo, que tem o meu nome
gravado nela. Há sempre outro rapaz na banda que toca a maior parte
das partes de guitarra. E se observarem com muita atenção numa
próxima actuação, verão como funciona. Ele segue os meus movimentos
e toca os acordes mesmo na altura certa.
Mas claro que é natural que, ao longo dos anos, eu
tenha vindo a experimentar outros instrumentos. Gosto de bateria e
gostava mesmo de vir a ter aulas desse instrumento um dia. Agora só
toco bateria por divertimento e às vezes até parece que sei o que
estou a fazer. Também gosto de piano, se bem que não ache que toque
exactamente como deve ser. Limito-me a carregar nas teclas que me
parecem/soam bem.
É muito divertido e às vezes toco enquanto canto.
Mas nunca ao vivo ou num disco. Não sou assim tão bom. Comprei um
órgão electrónico à minha mãe, que agora temos na nossa casa de
Memphis. Toda a família vai lá tocar e acho que é a coisa mais fácil
de tocar no mundo. Também tem um bom som, quando se está com a
disposição de fazer experiências.
Talvez um dia eu venha a aprender a tocar melhor
alguns destes instrumentos. Mas por enquanto, ando a experimentar
todos os tipos de instrumentos. Como já disse antes, faço isto
porque, de tudo o que conheço, a música é o que gosto mais na vida.
Será que Digo Mesmo Todas Aquelas Coisas?
Não estou só a falar dos rumores. Falo das coisas que
eles afirmam que eu disse e que às vezes me deitam mesmo abaixo. Não
sei porque motivo as pessoas dizem que eu digo coisas que nunca
disse, mas é o que acontece por vezes. E fartam-se de falar sobre
como os adolescentes de hoje são tão diferentes e tudo o mais. Vou
falar com franqueza. Não consigo entender.
E sabem uma coisa? Lamento muito que estas pessoas
que tentam pôr palavras na minha boca e tiram as suas conclusões
quando me vêem sobre o palco não tentem, em vez disso, entender os
miúdos da nossa idade. Lamento que eles não tentem entender que
temos imensa energia e que temos de fazer alguma coisa com ela.
E se
nos mantemos unidos, o principal motivo para isso, é que nos
entendemos mutuamente. Assim, podemos ajudar-nos a trabalhar alguma
desta energia ao partilhar o que sentimos uns com os outros. Será
que isto que fazemos é algo errado? Não consigo acreditar que seja.
E aposto que se as pessoas que nos criticam tentassem apenas
entender, também não iriam sentir que somos assim tão maus.
Mas digo-vos outra coisa. Acho que não importa o
quanto possamos tentar ser justos e bons com as pessoas, vai sempre
haver alguém que vai inventar histórias, façamos o que façamos.
Um fulano escreveu numa revista que ele sabia um
“segredo” a meu respeito. O seu artigo dizia, “… O segredo de
Presley? É simples. É famoso porque faz aquele espalhafato sobre o
palco. Sem as suas contorções, não teria qualquer oportunidade no
mundo da música.” Interrogo-me sobre o que este homem teria a dizer
se lhe dissesse que a maior parte dos meus discos foram comprados
por pessoas que nunca me viram em pessoa nas suas vidas!
Sobre Parques de Diversão
Claro que gosto de parques de diversão.
Gosto bastante. E gosto de ganhar pandas e todas
essas coisas.
É quase a única descontracção que tenho quando ando
em digressão. Isso e ir ao cinema. E se me perguntarem sobre a
comida, dêm-me comida caseira. A minha boca enche-se de água só de
pensar nos pequenos-almoços da mãe, de bacon com ovos. Farto-me de
os comer quando chego a casa!
Porque Motivo Canto como Canto?
Toda a gente me pergunta: Porque motivo canto como
canto? Sei tão bem como vocês o que algumas pessoas andam a dizer.
Não sou surdo. E oiço as mesmas coisas que vocês.
Elas não gostam de dançar. Não gostam de música western. Não gostam
de rock and roll. E não gostam de mim.
Bem, a minha mãe ensinou-me uma coisa desde bem
pequenino e que é que toda a gente tem direito a ter a sua opinião.
Acredito nisso. E também acredito que não podemos fazer os outros
gostar de nós, independentemente do que possamos fazer.
Não consigo explicar. Não consigo explicar o que
acontece quando a música começa. Mas acho que sei. Acho que vocês
sabem o que é ficar completamente envolvidos com algo, que nos
perdemos. E isso é o que cantar e a música me faz a mim. Envolve-me.
Faz-me esquecer de tudo o resto, excepto o ritmo e o som. Diz-me
mais do que qualquer outra coisa que já conheci na vida e como é
bom, maravilhoso apenas estar vivo.
Já canto como canto desde que me lembro. Não sei que
estilo lhe dar ou o que lhe chamar. Só sei que canto como canto
porque para mim é algo natural.
Muitas pessoas me perguntam, “Andas a tentar imitar
alguém, na forma como cantas?” Só lhes posso dizer o que
sinceramente sei do fundo do meu coração. Nunca tentei imitar
ninguém.
Uma rapariga disse-me que eu a fazia lembrar Johnny
Ray, mas ri-me e disse-lhe que não puxo os cabelos nem me rebolo no
chão ou algo assim. E nunca tive essa intenção. Não, nunca copiei
ninguém e também nunca ouvi ninguém com o meu estilo. Encontrei-o
mais ou menos acidentalmente.
Quando fui chamado para gravar o meu primeiro disco,
fui para o estúdio e disseram-me o que queriam que cantasse e como.
Bem, tentei fazer as coisas à maneira deles, mas não saiu lá muito
bem. E então, enquanto a maior parte deles estavam sentados a
descansar, dois de nós começámos a brincar com
That’s All Right, uma
excelente canção com ritmo.
Era suposto estarmos a descansar durante
dez minutos, por isso aquilo saiu naturalmente. E também saiu
bastante bem, pois o Sr. (Sam) Phillips, o homem que era
proprietário do estúdio, disse para eu avançar e cantar todas as
canções à minha maneira, da forma que sabia melhor. Tentámos e tudo
correu muito melhor. Decidiram gravar em disco
That’s All Right, e
colocaram Blue Moon of Kentucky no lado B.
Esse foi o meu primeiro disco. Nunca vou esquecer.
Mais tarde, como provavelmente devem saber, houve muito falatório
sobre as “estremecedelas” que acompanham os meus espectáculos.
Também vos quero contar como isso começou.
Quando o Sr. Phillips me chamou para fazer aquele
primeiro disco, fui para o estúdio e comecei a cantar. Contam eles
que também comecei a saltar e nem me apercebi. As minhas pernas
estremeciam todas, mais por estar nervoso e excitado, mas também
porque sinto mais a música quando me dou liberdade para me mover.
Depois do terceiro ensaio, Scotty Moore, o guitarrista da banda,
veio ter comigo e disse, “Ainda estás assustado, Elvis? Tremes por
todos os lados enquanto cantas.” Disse-lhe que não me sentia
assustado mal a música começava e que nem me apercebia que me mexia
tanto enquanto cantava. Disse-lhe que ia tentar ficar quieto durante
o ensaio seguinte.
Mas no ensaio seguinte aconteceu a mesma coisa. Mal a
música começou, já não era mais eu. Mesmo que quisesse, não seria
capaz de parar de me mexer. Porque todo aquele movimento fazia tanto
parte da música para mim como as palavras que estava a cantar. Disse
ao Scotty e ele disse, “Tudo bem, então faz o que te parecer
natural.” E foi o que fiz desde então.
Depois desse primeiro disco ter sido um sucesso,
apareci num grande festival de música em Memphis, a minha cidade,
num anfiteatro ao ar livre. Nunca vou esquecer como foi, estar
parado nos bastidores, a ouvir todos aqueles artistas excelentes e a
saber que teria de ir para lá em apenas dois minutos e tentar ser
tão bom como todos os outros. Quando chegou a minha vez, estava
completamente morto de medo. Eu e a minha banda lá fomos,
instalámo-nos e estávamos prontos para começar. Mas caramba, não
éramos capazes de nos mexer!
Parecíamos um monte de gente morta, por
estarmos com tanto medo. Acho que tínhamos umas quatro a cinco mil
pessoas no público e eles olhavam para mim e eu olhava para eles.
Depois lá houve alguém na secção do baixo que teve coragem para
começar a tocar e os outros foram atrás. Quando me apercebi, já
estava a cantar. E depois o público começou a gritar um pouco,
depois a gritar imenso, até entrarem bem na onda e todos nos
divertimos imenso. Saí do palco e eles aplaudiram e continuavam a
chamar-me de volta.
Não conseguia perceber porquê. Não fazia ideia
nenhuma do que tinha feito que eles tivessem gostado tanto. O meu
empresário deu-me um empurrão em direcção ao palco e disse-me para
ir lá e fazer o que tinha estado a fazer. E eu disse, “O que é que
tenho estado a fazer?” Ele respondeu, “Tens estado a estremecer por
todos os lados.” Disse, “As tuas pernas têm estado a abanar ao som
da música, os teus olhos a piscar e os teus ombros a mexer e tudo o
mais!
Vai lá e continua a fazer isso!”
Então, voltei para o palco e escolhemos rapidamente
outra canção de rock and roll. E eu disse para mim mesmo, “Agora
escuta, tenta e volta a fazer o que fizeste.” Quando a música
começou, não me lembrei mais do que tinha dito a mim mesmo, mas devo
ter feito a mesma coisa outra vez porque o público gritava e berrava
como louco quando a canção chegou ao fim. Foi aí que realmente tudo
começou, naquela noite, e tem sido assim desde então.
Só desejava – como posso explicar isto? – poder fazer
tudo com a música. Desejava poder saber tocar todos os instrumentos.
Desejava poder saber cantar todas as canções. E desejava poder
agradecer-vos a todos que se sentem da mesma forma em relação à
música e que mo dizem. Tenho tido tanta sorte. Desde aquele primeiro
início fantástico no programa televisivo, Stage Show, até
agora, e ao Sr. Sullivan. Tenho tido tanta sorte. Às vezes até me
custa a acreditar.
E Agora, que Mais Posso Dizer?
Só não sei dizer como me sinto agora, em relação a
tudo isto. Desde aquela primeira noite, as coisas têm acontecido tão
depressa que realmente não sei. Claro que gosto. Tem sido a coisa
mais maravilhosa do mundo.
A forma como têm comprado os meus discos
da RCA Victor e como têm vindo aos meus concertos e me têm visto no
programa televisivo do Sr. Sullivan e em todos os outros. Não sei
realmente o que dizer.
E agora que fiz o meu primeiro filme para a 20th
Century-Fox, tenho esperanças de poder vir a aprender a ser o melhor
actor que possa. Fazer Love Me Tender foi algo que jamais vou
esquecer.
Nunca irão saber como Debra Paget foi simpática para mim,
a ajudar-me a aprender todas as deixas e a estudar. E o mesmo se
aplica a todas as pessoas de lá. Que posso eu dizer excepto que me
sinto grato a todos eles?
E que vos posso dizer a vocês? Só posso dizer a mesma
coisa.
Obrigado. Sei que não é suficiente, mas quero
dizer-vos outra coisa.
Com essa palavra também segue uma grande parte de
mim. Uma parte de mim que nunca teria existido de todo senão fosse
pela vossa ajuda e encorajamento.
E quero que saibam que o meu agradecimento vem daqui,
do fundinho do coração mais feliz neste mundo inteiro.
Sim, tenho tido sorte.
E sabem uma coisa? Às vezes sinto-me como se fosse
tudo um sonho, como se fosse esfregar os olhos, acordar e ver que
acabou tudo.
Espero que não. Espero que isso nunca aconteça.
Espero que nunca acabe.
Estou sempre imensamente grato a todos meus fãs. São
realmente responsáveis pela minha aceitação e sucesso. Deste modo,
para que o correio sempre a aumentar que vem destas pessoas
maravilhosas possa ser devidamente recebido e lido, estamos a mudar
a Sede do Clube de Fãs de Elvis Presley para Hollywood.
Agora que
acabei
Love Me Tender para a 20th Century-Fox e vou fazer
outro filme para a Paramount, parece que vou passar muito tempo em
Hollywood. Por isso, por favor, encaminhem as vossas cartas para mim
para Box 94, Hollywood, California. Muito obrigado!
Fonte: Revista Elvis Answers Back/elvis100percent.com
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