Local
– Brooklyn, Nova Iorque
Evento
–
Conferência de Imprensa. Perguntas colocadas por vários
representantes dos órgãos de comunicação social.
Aqui,
nesta sala privada de Brooklyn, onde Elvis Presley, o Soldado Elvis
Presley do Exército dos Estados Unidos, está prestes a embarcar para
a Alemanha hoje. E deixem-me contar-vos um pouco dos zum-zuns que
temos ouvido por aqui. Como digo, temos estado à espera, nas últimas
duas horas, para que Presley chegue. Houve algum atraso no seu
comboio… e ele acabou de sair do elevador, que o trouxe do nível
mais baixo onde muitos dos seus colegas que também vão embarcar se
estão a preparar para entrar a bordo do General Randall, o
navio que o vai levar para a Alemanha.
Agora
Elvis aproxima-se e vai sentar-se por trás da secretária. Os
microfones estão a ser montados. Vão tirar-se mais fotografias.
Elvis está aparentemente a apreciar toda a cena, pois tem estado a
sorrir desde que entrou na sala.
Minha
senhora.
As
suas medalhas são de quê?
Posso
levantar-me, senhor? Estas medalhas aqui, minha senhora, são por
perícia ao tiro com uma espingarda carabina e também com armas de
tanque.
O
quê?
Armas de
tanque. É uma arma de noventa-milímetros. E esta aqui, não me saí
tão bem. É do tiro com pistola. Tenho um atirador aqui presente (e
aponta para outro soldado).
Uma
quarenta-e-cinco?
Sim,
senhor, é isso.
Elvis, o que pensa de ir para a Alemanha?
Bem,
senhor, estou mais ou menos curioso e desejoso de ir.
Fala
algum alemão?
Não,
senhora, não falo.
Tem
planos para aprender um pouco?
Provavelmente terei mesmo de aprender, se quiser sobreviver na
Alemanha.
O “A”
no seu nome é de quê?
Aron.
Quem
é o autor do livro que trazia consigo quando saiu do comboio?
Tinha
acabado de receber o livro, senhor. Não sei.
Onde
é que o arranjou? Foi alguém que lho deu de presente?
Foi um
dos rapazes que mo ofereceu no comboio. O título do livro é Poems
That Touch the Heart (de A.L. Alexander) – Poemas que Tocam o
Coração.
E
alguns dos poemas tocaram o seu coração?
(Ri-se).
Teve
oportunidade de o ler?
Sim,
senhora, li alguns dos poemas. Li um particular intitulado “Se
Partires Primeiro”, que é realmente um poema muito bonito.
Prefere poesia a histórias curtas?
Sim,
senhora, prefiro.
Sabe
quem era o autor desse poema?
O autor
deste poema é desconhecido. É isso mesmo.
Elvis, o seu pai está a planear ir para a Alemanha pouco depois ou
ao mesmo tempo consigo?
Sim,
senhora, é suposto ele ir embora, acho eu, no dia 26.
Vai
mais alguém consigo?
A minha
avó e um dos rapazes que costumava trabalhar connosco também vai.
Gosta
de ir para a Alemanha? Sei que não tem escolha, mas ah…
(Ri-se).
Sim, senhor. Estou desejoso por ir. De facto, antes de vir para o
Exército, estávamos a planear uma tournée pela Europa. Nunca saí dos
Estados Unidos, excepto para ir até Honolulu. A música rock and roll
é muito importante na Europa, na Alemanha, por toda a Europa. É um
negócio muito grande.
Será
que ainda têm grupos muito activos dos quais oiça falar, mesmo até
enquanto esteve na tropa?
Sim,
senhor. De facto, acho que os meus clubes de fãs provavelmente
duplicaram.
Desde
que foi para a tropa?
Sim,
senhor.
Isso
é espantoso.
E o
correio quase pôs toda a gente maluca em Fort Hood.
O que
aconteceu a todo esse correio?
Foi
enviado ao Coronel Parker para ser respondido, em Nashville.
Quantas cartas de fãs por dia recebe pelo correio hoje em dia?
Bem,
senhor, suponho que recebo… provavelmente umas 15.000 cartas por
semana.
Quinze mil cartas por semana?
Sim,
senhor.
Espera ter alguma oportunidade de cantar na Alemanha?
Bem,
senhor, não sei. Não sei mesmo.
Espera poder fazê-lo?
Na
realidade, é uma decisão bastante difícil. Até agora tenho estado
apenas a ser um soldado e tenho-me estado a sair muito bem. Por isso
não sei exactamente o que têm planeado para mim.
Sai
em 24 de Março de 1960?
Sim,
senhor.
Para
manter a sua carreira activa enquanto está no Exército, terá de dar
conferências de imprensa, você sabe, agora que é uma estrela da
Paramount, enquanto está na Europa?
Calculo
que vão estar lá muitas pessoas da imprensa à minha espera. Não sei
mesmo. Não sei como vai ser isto tratado enquanto lá estiver.
Elvis, na altura em que entrou para a tropa, acho que foi o Coronel
Parker que disse que o governo ia perder dinheiro metendo-o no
Exército, referindo-se, é claro, aos impostos. Partilha da mesma
opinião dele?
(Ri-se).
Bem, vou dizer o seguinte. Já paguei muitos impostos, eu sei isso.
Muito embora o governo tenha muito dinheiro… espero eu.
Podemos ver o seu corte de cabelo?
Minha
senhora, isso seria o mesmo que ficar desfardado, não posso tirar o
meu boné.
Passou por maus bocados no primeiro dia em campo e depois do
primeiro dia? Que tipo de comentários faziam os outros soldados?
Alguns
desses comentários não ficariam mesmo nada bem impressos, senhor.
Elvis, a maior parte das pessoas têm uma canção que lhes é especial.
Tem alguma canção favorita?
A minha
canção favorita é uma intitulada Padre. Conhecem? Do Tony Arden? E
também gosto de You’ll Never Walk Alone, que sempre foi uma das
minhas preferidas.
Elvis, acha que ter sido cadete dos R.O.T.C. enquanto esteve na
escola lhe serviu para alguma coisa no Exército?
Sim,
senhora, certamente que sim. Soube logo distinguir a minha perna
direita da esquerda, sem quaisquer problemas (ri-se).
Aquele guarda de raça negra a quem você deu roupas na Humes High
School em Memhis, deu-lhe alguns presentes?
Sim,
senhora, deram-me um mosquete antigo – uma daquelas armas antigas,
sabe, das que tinham de levar pólvora pelo cano.
Da
Guerra Civil ou antes disso?
Acho que
era da Guerra Civil.
A sua
família já é de cá há muito tempo. Será que alguns dos seus
ancestrais andaram na Guerra Civil ou na Guerra da Revolução?
Ah,
deixe-me ver. Em qual dos lados? (ri-se).
Ainda
tem quatro Cadillacs?
Agora
são três, senhor. Troquei um por um Lincoln.
Vai
levar algum dos seus carros consigo?
Não,
senhora. Vou arranjar um… quando estiver na Alemanha, terei de fazer
como os alemães. Provavelmente comprarei um carro alemão.
Mas
você não tem uma… uma Messerschmitt?
Já tive.
Mas ofereci-a, senhor.
Como
é possível que você não esteja nos Serviços Especiais?
Minha
senhora, não sei.
Mas
não fica ao seu critério? Quer dizer, ninguém lhe perguntou?
Eu não
disse nada. Quer dizer, calculo que o Exército saiba o que é melhor
para mim.
Que
tipo de trabalho é que o têm posto a fazer? Que tipo de trabalho é
que faz normalmente?
Bem,
durante cerca de 18 semanas estive nos tanques. Fui comandante de um
tanque. E depois, nas últimas semanas que estive lá, fui camionista.
Conduzi um camião.
Elvis, se o rock and roll já tiver acabado quando sair da tropa…
… morro
à fome, senhor (ri-se)… Peço desculpa.
… O
que é que acha que pode fazer?
Se a
música rock and roll morrer – o que julgo não irá acontecer –
provavelmente tentaria outra coisa. Provavelmente tentaria… virar-me
para os filmes e tentaria sair-me bem como actor, o que é bastante
duro, pois há muita concorrência.
Elvis, sente-se surpreendido por ter sido um sucesso tão grande e
tão duradouro até agora? Alguma vez pensou que fosse sair-se assim
tão bem?
Não sei,
senhor. Tinha esperanças disso, mas ah, limitei-me a viver um dia de
cada vez. Não antecipei que me poderia dar bem, tal como não
antecipei que me poderia dar logo mal.
A
propósito, quantos discos de ouro tem?
Vinte e
cinco, senhor.
Vinte
e cinco? Isso é um recorde, não é, nesta área? A Paramount diz que
tem oito.
Oito?
Senhor, eles estão atrasados no tempo.
Vinte
e cinco?
Já vendi
vinte e cinco milhões de singles e tenho dois álbuns que já venderam
um milhão cada um. De facto, os homens da RCA estão por aqui. Eles
podem verificar isso. Não é verdade?
(Coronel Tom Parker). O Sr. Sholes anda por aí.
Desapareceram todos, senhor. Não é verdade, Sr. Sholes?
Steve
Sholes?
(Coronel Tom Parker) É o senhor com o distintivo vermelho que ali
está.
Planeia gravar alguns discos enquanto estiver de licença na
Alemanha? Sei que isso é um privilégio do pessoal do Exército.
Podia
repetir, senhor?
Planeia gravar alguns discos enquanto estiver de licença na
Alemanha? Sei que isso é um privilégio do pessoal do Exército.
Não,
senhor, não tenho planos para fazer isso. Acho que não.
Elvis, sobre o rock and roll, acha que vai haver alguma forma de
música que evolua daí? Por outras palavras, será que vai ficar como
está ou acha que pode mudar a sua forma? Bem, tem havido muitas
críticas feitas aos estremeções. Acha que isso vai endireitar ou
algo do género? Entende o que quero dizer?
Senhor,
os estremeções não se podem endireitar (ri-se). Se o fizer, estou
acabado. É como um tipo lá em Fort Hood… um dos sargentos me disse
um dia destes… Eu estava… estava sentado no meu vestiário e a minha
perna esquerda estava a abanar. E era inconscientemente. Ele disse,
“Presley, adorava que deixasses de abanar essa perna.” E eu disse,
“Sargento, quando esta perna deixar de abanar, estou feito.”
Provavelmente deve ter visto que os seus fãs quase deitaram o tecto
abaixo em Londres quando King Creole foi exibido na semana
passada. Tem planos para ir até à Inglaterra durante as suas
licenças na Alemanha?
Gostava
de poder ir, se conseguir ter licenças de três dias.
Elvis, o que gostaria mais de fazer durante seu tempo livre na
Europa?
Gostava
de ir até Paris… e procurar a Brigitte Bardot (risos).
Elvis, tem alguma coisa que gostaria de dizer aos seus muitos
admiradores antes de ir além-mar… algumas palavras de despedida?
Bem,
senhor, tenho. Gostava de dizer que vou tentar fazer o meu melhor
para lançar os discos e tudo o mais que eles gostam e que estarei
desejoso de regressar para voltar a trabalhar para eles.
Tem
alguns discos gravados que ainda não foram lançados?
Sim,
senhora, tenho.
Quantos?
Tenho
dois… ou são três? Não sei. Ele (Coronel Tom Parker) diz que são
quatro.
Pode
dizer-me o que acha da canção Volare (de Dean Martin), e dos
cantores italianos que têm aparecido?
Acho que
é óptimo. Fui logo comprar o disco quando o ouvi pela primeira vez.
Acha
que seria capaz de gravar algo do género?
Eu,
gravar uma canção em italiano? Não sei se teria estofo para isso
(ri-se).
Enquanto estiver na tropa, tem planos para se aproveitar dos
benefícios educativos que os serviços do Exército disponibilizam?
Bem, já
ouvi falar muito sobre os diferentes tipos de educação que o
Exército tem para oferecer. E sei com toda a certeza que muitos
rapazes foram para a tropa e beneficiaram disso posteriormente na
sua vida civil, depois de saírem da tropa. Muitos dos rapazes que
não tinham nada antes de entrarem, saíram da tropa, onde tiveram um
ou dois anos de educação e quando saíram do Exército, estavam
qualificados para um bom trabalho. Acho que não prejudica ninguém
ter uma profissão para a qual se virar se algo acontecer no mundo do
entretenimento, ou se algo me acontecer a mim. Não sei ainda com
exactidão para que tipo de escola gostaria de ir.
Elvis, na viagem que fez de comboio até aqui, não sei vindo de onde…
De Fort
Hood, senhor…
De
Fort Hood até Brooklyn, deve ter tido algum tempo para si mesmo. No
que é que pensou?
Bem,
haviam 350 rapazes nesse comboio comigo. Não me deram muito tempo
para pensar. Você sabe, os rapazes vinham ter comigo para falar.
Queriam saber como era Hollywood e outras coisas. Queriam saber como
se fazem filmes e coisas assim. Mantivemo-nos bastante ocupados. De
qualquer forma, não gosto muito de ficar sentado sozinho a pensar.
Já
fez amigos verdadeiros na tropa, amizades verdadeiras desde que
entrou?
Sim,
senhor, tenho já bastantes amigos.
Elvis, tem pena de nunca ter ido para a universidade?
Na
altura em que devia ter ido, não tínhamos dinheiro para eu ir para a
universidade. Mas gostava de ter ido.
Gostaria de ir a um dado momento da sua vida?
Bem,
isso dependerá do que o futuro tiver reservado para mim.
Fonte:
Livro Elvis Word for Word, de Jerry
Osborne./http://www.elvis100percent.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário