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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Brooklyn,New York:22/09/1958






Local – Brooklyn, Nova Iorque


Evento – Conferência de Imprensa. Perguntas colocadas por vários representantes dos órgãos de comunicação social.

 

Aqui, nesta sala privada de Brooklyn, onde Elvis Presley, o Soldado Elvis Presley do Exército dos Estados Unidos, está prestes a embarcar para a Alemanha hoje. E deixem-me contar-vos um pouco dos zum-zuns que temos ouvido por aqui. Como digo, temos estado à espera, nas últimas duas horas, para que Presley chegue. Houve algum atraso no seu comboio… e ele acabou de sair do elevador, que o trouxe do nível mais baixo onde muitos dos seus colegas que também vão embarcar se estão a preparar para entrar a bordo do General Randall, o navio que o vai levar para a Alemanha.

 

Agora Elvis aproxima-se e vai sentar-se por trás da secretária. Os microfones estão a ser montados. Vão tirar-se mais fotografias. Elvis está aparentemente a apreciar toda a cena, pois tem estado a sorrir desde que entrou na sala.

 

Minha senhora.

 

As suas medalhas são de quê?


Posso levantar-me, senhor? Estas medalhas aqui, minha senhora, são por perícia ao tiro com uma espingarda carabina e também com armas de tanque.

 

O quê?


Armas de tanque. É uma arma de noventa-milímetros. E esta aqui, não me saí tão bem. É do tiro com pistola. Tenho um atirador aqui presente (e aponta para outro soldado).

 

Uma quarenta-e-cinco?


Sim, senhor, é isso.

 

Elvis, o que pensa de ir para a Alemanha?


Bem, senhor, estou mais ou menos curioso e desejoso de ir.

 

Fala algum alemão?


Não, senhora, não falo.

 






Tem planos para aprender um pouco?


Provavelmente terei mesmo de aprender, se quiser sobreviver na Alemanha.

 

O “A” no seu nome é de quê?


Aron.

 

Quem é o autor do livro que trazia consigo quando saiu do comboio?


Tinha acabado de receber o livro, senhor. Não sei.

 

Onde é que o arranjou? Foi alguém que lho deu de presente?


Foi um dos rapazes que mo ofereceu no comboio. O título do livro é Poems That Touch the Heart (de A.L. Alexander) – Poemas que Tocam o Coração.

 

E alguns dos poemas tocaram o seu coração?


(Ri-se).

 

Teve oportunidade de o ler?


Sim, senhora, li alguns dos poemas. Li um particular intitulado “Se Partires Primeiro”, que é realmente um poema muito bonito.

 

Prefere poesia a histórias curtas?


Sim, senhora, prefiro.

 

Sabe quem era o autor desse poema?


O autor deste poema é desconhecido. É isso mesmo.

 





Elvis, o seu pai está a planear ir para a Alemanha pouco depois ou ao mesmo tempo consigo?


Sim, senhora, é suposto ele ir embora, acho eu, no dia 26.

 

Vai mais alguém consigo?


A minha avó e um dos rapazes que costumava trabalhar connosco também vai.

 

Gosta de ir para a Alemanha? Sei que não tem escolha, mas ah…


(Ri-se). Sim, senhor. Estou desejoso por ir. De facto, antes de vir para o Exército, estávamos a planear uma tournée pela Europa. Nunca saí dos Estados Unidos, excepto para ir até Honolulu. A música rock and roll é muito importante na Europa, na Alemanha, por toda a Europa. É um negócio muito grande.

 

Será que ainda têm grupos muito activos dos quais oiça falar, mesmo até enquanto esteve na tropa?


Sim, senhor. De facto, acho que os meus clubes de fãs provavelmente duplicaram.

 

Desde que foi para a tropa?


Sim, senhor.

 

Isso é espantoso.


E o correio quase pôs toda a gente maluca em Fort Hood.

 

O que aconteceu a todo esse correio?


Foi enviado ao Coronel Parker para ser respondido, em Nashville.

 





Quantas cartas de fãs por dia recebe pelo correio hoje em dia?


Bem, senhor, suponho que recebo… provavelmente umas 15.000 cartas por semana.

 

Quinze mil cartas por semana?


Sim, senhor.

 

Espera ter alguma oportunidade de cantar na Alemanha?


Bem, senhor, não sei. Não sei mesmo.

 

Espera poder fazê-lo?


Na realidade, é uma decisão bastante difícil. Até agora tenho estado apenas a ser um soldado e tenho-me estado a sair muito bem. Por isso não sei exactamente o que têm planeado para mim.

 

Sai em 24 de Março de 1960?


Sim, senhor.

 

Para manter a sua carreira activa enquanto está no Exército, terá de dar conferências de imprensa, você sabe, agora que é uma estrela da Paramount, enquanto está na Europa?


Calculo que vão estar lá muitas pessoas da imprensa à minha espera. Não sei mesmo. Não sei como vai ser isto tratado enquanto lá estiver.

 

Elvis, na altura em que entrou para a tropa, acho que foi o Coronel Parker que disse que o governo ia perder dinheiro metendo-o no Exército, referindo-se, é claro, aos impostos. Partilha da mesma opinião dele?


(Ri-se). Bem, vou dizer o seguinte. Já paguei muitos impostos, eu sei isso. Muito embora o governo tenha muito dinheiro… espero eu.

 

Podemos ver o seu corte de cabelo?


Minha senhora, isso seria o mesmo que ficar desfardado, não posso tirar o meu boné.

 




Passou por maus bocados no primeiro dia em campo e depois do primeiro dia? Que tipo de comentários faziam os outros soldados?


Alguns desses comentários não ficariam mesmo nada bem impressos, senhor.

 

Elvis, a maior parte das pessoas têm uma canção que lhes é especial. Tem alguma canção favorita?


A minha canção favorita é uma intitulada Padre. Conhecem? Do Tony Arden? E também gosto de You’ll Never Walk Alone, que sempre foi uma das minhas preferidas.

 

Elvis, acha que ter sido cadete dos R.O.T.C. enquanto esteve na escola lhe serviu para alguma coisa no Exército?


Sim, senhora, certamente que sim. Soube logo distinguir a minha perna direita da esquerda, sem quaisquer problemas (ri-se).

 

Aquele guarda de raça negra a quem você deu roupas na Humes High School em Memhis, deu-lhe alguns presentes?


Sim, senhora, deram-me um mosquete antigo – uma daquelas armas antigas, sabe, das que tinham de levar pólvora pelo cano.

 

Da Guerra Civil ou antes disso?


Acho que era da Guerra Civil.

 

A sua família já é de cá há muito tempo. Será que alguns dos seus ancestrais andaram na Guerra Civil ou na Guerra da Revolução?


Ah, deixe-me ver. Em qual dos lados? (ri-se).

 

Ainda tem quatro Cadillacs?


Agora são três, senhor. Troquei um por um Lincoln.

 

Vai levar algum dos seus carros consigo?


Não, senhora. Vou arranjar um… quando estiver na Alemanha, terei de fazer como os alemães. Provavelmente comprarei um carro alemão.

 





Mas você não tem uma… uma Messerschmitt?


Já tive. Mas ofereci-a, senhor.

 

Como é possível que você não esteja nos Serviços Especiais?


Minha senhora, não sei.

 

Mas não fica ao seu critério? Quer dizer, ninguém lhe perguntou?


Eu não disse nada. Quer dizer, calculo que o Exército saiba o que é melhor para mim.

 

Que tipo de trabalho é que o têm posto a fazer? Que tipo de trabalho é que faz normalmente?


Bem, durante cerca de 18 semanas estive nos tanques. Fui comandante de um tanque. E depois, nas últimas semanas que estive lá, fui camionista. Conduzi um camião.

 

Elvis, se o rock and roll já tiver acabado quando sair da tropa…


… morro à fome, senhor (ri-se)… Peço desculpa.

 

… O que é que acha que pode fazer?


Se a música rock and roll morrer – o que julgo não irá acontecer – provavelmente tentaria outra coisa. Provavelmente tentaria… virar-me para os filmes e tentaria sair-me bem como actor, o que é bastante duro, pois há muita concorrência.

 

Elvis, sente-se surpreendido por ter sido um sucesso tão grande e tão duradouro até agora? Alguma vez pensou que fosse sair-se assim tão bem?


Não sei, senhor. Tinha esperanças disso, mas ah, limitei-me a viver um dia de cada vez. Não antecipei que me poderia dar bem, tal como não antecipei que me poderia dar logo mal.

 





A propósito, quantos discos de ouro tem?


Vinte e cinco, senhor.

 

Vinte e cinco? Isso é um recorde, não é, nesta área? A Paramount diz que tem oito.


Oito? Senhor, eles estão atrasados no tempo.

 

Vinte e cinco?


Já vendi vinte e cinco milhões de singles e tenho dois álbuns que já venderam um milhão cada um. De facto, os homens da RCA estão por aqui. Eles podem verificar isso. Não é verdade?

 

(Coronel Tom Parker). O Sr. Sholes anda por aí.


Desapareceram todos, senhor. Não é verdade, Sr. Sholes?

 

Steve Sholes?

 

(Coronel Tom Parker) É o senhor com o distintivo vermelho que ali está.

 

Planeia gravar alguns discos enquanto estiver de licença na Alemanha? Sei que isso é um privilégio do pessoal do Exército.


Podia repetir, senhor?

 

Planeia gravar alguns discos enquanto estiver de licença na Alemanha? Sei que isso é um privilégio do pessoal do Exército.


Não, senhor, não tenho planos para fazer isso. Acho que não.

 

Elvis, sobre o rock and roll, acha que vai haver alguma forma de música que evolua daí? Por outras palavras, será que vai ficar como está ou acha que pode mudar a sua forma? Bem, tem havido muitas críticas feitas aos estremeções. Acha que isso vai endireitar ou algo do género? Entende o que quero dizer?


Senhor, os estremeções não se podem endireitar (ri-se). Se o fizer, estou acabado. É como um tipo lá em Fort Hood… um dos sargentos me disse um dia destes… Eu estava… estava sentado no meu vestiário e a minha perna esquerda estava a abanar. E era inconscientemente. Ele disse, “Presley, adorava que deixasses de abanar essa perna.” E eu disse, “Sargento, quando esta perna deixar de abanar, estou feito.”

 





Provavelmente deve ter visto que os seus fãs quase deitaram o tecto abaixo em Londres quando King Creole foi exibido na semana passada. Tem planos para ir até à Inglaterra durante as suas licenças na Alemanha?


Gostava de poder ir, se conseguir ter licenças de três dias.

 

Elvis, o que gostaria mais de fazer durante seu tempo livre na Europa?


Gostava de ir até Paris… e procurar a Brigitte Bardot (risos).

 

Elvis, tem alguma coisa que gostaria de dizer aos seus muitos admiradores antes de ir além-mar… algumas palavras de despedida?


Bem, senhor, tenho. Gostava de dizer que vou tentar fazer o meu melhor para lançar os discos e tudo o mais que eles gostam e que estarei desejoso de regressar para voltar a trabalhar para eles.

 

Tem alguns discos gravados que ainda não foram lançados?


Sim, senhora, tenho.

 

Quantos?


Tenho dois… ou são três? Não sei. Ele (Coronel Tom Parker) diz que são quatro.

 

Pode dizer-me o que acha da canção Volare (de Dean Martin), e dos cantores italianos que têm aparecido?


Acho que é óptimo. Fui logo comprar o disco quando o ouvi pela primeira vez.

 

Acha que seria capaz de gravar algo do género?


Eu, gravar uma canção em italiano? Não sei se teria estofo para isso (ri-se).

 




Enquanto estiver na tropa, tem planos para se aproveitar dos benefícios educativos que os serviços do Exército disponibilizam?


Bem, já ouvi falar muito sobre os diferentes tipos de educação que o Exército tem para oferecer. E sei com toda a certeza que muitos rapazes foram para a tropa e beneficiaram disso posteriormente na sua vida civil, depois de saírem da tropa. Muitos dos rapazes que não tinham nada antes de entrarem, saíram da tropa, onde tiveram um ou dois anos de educação e quando saíram do Exército, estavam qualificados para um bom trabalho. Acho que não prejudica ninguém ter uma profissão para a qual se virar se algo acontecer no mundo do entretenimento, ou se algo me acontecer a mim. Não sei ainda com exactidão para que tipo de escola gostaria de ir.

 

Elvis, na viagem que fez de comboio até aqui, não sei vindo de onde…


De Fort Hood, senhor…

 

De Fort Hood até Brooklyn, deve ter tido algum tempo para si mesmo. No que é que pensou?


Bem, haviam 350 rapazes nesse comboio comigo. Não me deram muito tempo para pensar. Você sabe, os rapazes vinham ter comigo para falar. Queriam saber como era Hollywood e outras coisas. Queriam saber como se fazem filmes e coisas assim. Mantivemo-nos bastante ocupados. De qualquer forma, não gosto muito de ficar sentado sozinho a pensar.

 

Já fez amigos verdadeiros na tropa, amizades verdadeiras desde que entrou?


Sim, senhor, tenho já bastantes amigos.

 

Elvis, tem pena de nunca ter ido para a universidade?


Na altura em que devia ter ido, não tínhamos dinheiro para eu ir para a universidade. Mas gostava de ter ido.

 

Gostaria de ir a um dado momento da sua vida?


Bem, isso dependerá do que o futuro tiver reservado para mim.

  Fonte: Livro Elvis Word for Word, de Jerry Osborne./http://www.elvis100percent.com

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